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sábado, 15 de outubro de 2022

 Local está sendo preparado para uma grande obra, fica em frente da Prefeitura de Capão da Canoa, ali antigamente ficava o Posto Shell do Sr. Keno, a casa do Sr. Miguel Florentino, do Baronda e a casa do Mário Sergio Barrionuevo entre outras.


sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 

Origem do tradicional sonho de Santo Antônio da Patrulha

SONHO AÇORIANO É CROCANTE POR FORA E AERADO POR DENTRO
LEANDRO STAUDT.
sonho de Santo Antônio da Patrulha está na memória afetiva de muitos gaúchos. Nas viagens para a praia pela Estrada Velha, era obrigatória uma parada para o lanche no município do Litoral Norte. O sonho açoriano conquistou a preferência das famílias, com uma crocância inigualável. Combinava muito bem com um café ou refrigerante.
O produto está diretamente ligado à imagem da cidade, junto com a cachaça e a rapadura. A receita foi trazida pelos imigrantes açorianos, mas ganhou fama nas mãos de Adelaide Peixoto Monteiro. No posto de gasolina aberto pelo marido, Modesto Antunes Monteiro, em 1940, ela surpreendia os viajantes com o doce. Com a construção da RS-17 (atual ERS-030), aumentou o movimento rumo às praias, com todos passando por Santo Antônio da Patrulha. O negócio da família cresceu, com criação do restaurante Boas-Vindas, tradicional paradouro para os ônibus. Mais tarde, abriram também um hotel.
AS COISAS MUDARAM COM A INAUGURAÇÃO DA FREEWAY, EM 1973. A VIAGEM ENTRE A REGIÃO METROPOLITANA E O LITORAL NORTE FICOU MAIS RÁPIDA E NÃO TEVE MAIS A PARADA EM SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA. O RESTAURANTE PERDEU CLIENTES, ATÉ FECHAR AS PORTAS NA DÉCADA DE 1990. O HISTORIADOR FERNANDO ROCHA LAUCK DESTACA QUE DONA ADELAIDE FOI IMPORTANTE TAMBÉM NA FORMAÇÃO DE SONHADEIRAS, MULHERES QUE ATÉ HOJE FAZEM OS SONHOS NA CIDADE. ELA FALECEU EM 1985 E O MARIDO, DEZ ANOS DEPOIS.
Os irmãos Luciano, Marcelo e Andrea Cardoso Pereira decidiram levar adiante a tradição herdada dos açorianos. Nas últimas duas décadas, estão à frente da Casa do Sonho, no local do antigo restaurante da família Monteiro. Luciano conta que uma filha de dona Adelaide os acompanhou nos primeiros tempos, repassando a receita e os segredos.
A receita não é igual da maioria dos sonhos que encontramos nas padarias de outras cidades, que são mais fofinhos. O quitute açoriano é feito com farinha, sal, água e ovo. Frito em panela. Nada de fermento e forno. O tradicional sonho açoriano precisa ser crocante por fora e aerado por dentro. No fim, recebe uma cobertura de açúcar e canela.
O sonho açoriano é frito e precisa ser crocante por fora e aerado por dentro
Na Assembleia Legislativa, tramita projeto de lei para reconhecer a relevância cultural do sonho açoriano de Santo Antônio da Patrulha.
e-mail da coluna (leandro.staudt@rdgaucha.com.br)
GZH
Pesquisa: Aidyl Peruchi.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

 

Guilherme Martins Veras: o primeiro faroleiro de Capão da Canoa

Ele foi transferido para a região em 1930, assumindo a responsabilidade pelo funcionamento de um farol recém-construído

Ricardo Chaves
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Na foto: Farol Albardão, no litoral sul do RS. É o farol mais alto e mais isolado do Estado, localizado nas terras emersas entre o oceano Atlântico e a lagoa Mangueira e entre as praias do Cassino e Hermenegildo

A colaboração a seguir foi enviada por Aidyl Peruchi, fotógrafo e pesquisador, de Capão da Canoa.

Guilherme Martins Veras nasceu em 1893, em Porto Belo, em Santa Catarina; filho de Maximiliano Martins Veras e Leopoldina Furtado, cearenses que foram para Santa Catarina a mando da Marinha do Brasil, da qual ele era funcionário, para assumir o farol da Ilha do Arvoredo, que fica ao norte de Florianópolis, ao largo de Bombinhas.

Em 1914, Guilherme, aos 21 anos, começou a exercer a mesma profissão do pai, no mesmo local. Nesse ano, casou-se com Maria da Conceição Veríssimo Bernardino e viveram naquela ilha durante 15 anos. Neste período, nasceram oito de seus 12 filhos — os outros quatro vieram a nascer no município de Osório.

Em 1929, foi transferido para o farol de Mostardas, no Rio Grande do Sul, onde permaneceu por um ano. Em 1930, foi novamente transferido, dessa vez para Capão da Canoa, onde assumiu a responsabilidade pelo funcionamento do farol do município, recém-construído. Nessa localidade (na época, ainda pertencente ao município de Osório), Guilherme permaneceu, com sua numerosa família, até o fim de sua existência, em 1965.

Todos que o conheceram são testemunhas de seu enorme coração, de sua educação e de seu respeito, tendo sido um amigo estimado por todos, tanto pelos raros veranistas da época quanto pelos moradores mais humildes.

Uma lembrança que ele sempre contava era o fato de, naqueles primeiros anos, ser o primeiro funcionário público federal da região e, também, o espanto que causava quando dizia que tinha que se deslocar até Osório para receber seu salário mensal.

Guilherme tinha hábitos simples e era conhecido por “Seu Veras” ou o “Faroleiro”; uma de suas características era a de estar sempre usando uma boina preta. Tocava violão e gostava de acompanhar as serenatas, muito em moda na época. Era, também, hábil artesão na confecção de redes e espinhéis – o que fazia ele ser constantemente procurado por seus conhecimentos de pesca artesanal no mar.

Nos anos de 1930 e 1940, Capão da Canoa era um pequeno povoado, habitado, nos períodos de inverno, principalmente por pescadores que tiravam seu sustento do mar (peixes, mariscos, maçambiques — molusco — e siris), a maioria deles oriunda do município catarinense de Sombrio e de outras pequenas localidades próximas. No verão, a clientela no balneário aumentava um pouco e eles iam sobrevivendo com a venda do que conseguiam retirar do mar.

Como escreveu Moacyr Scliar numa crônica, de 2009, em ZH: "Faróis são construções antigas. Numa época em que a navegação não podia contar com recursos eletrônicos, os faróis representavam, para os navios, segurança, proteção: na costa muitas vezes distante, ou oculta pelo nevoeiro, alguém estava pensando nos navegantes, alguém estava velando por eles. Na desolada costa gaúcha, na qual os navios não podiam contar com acolhedoras baías, os faróis eram ainda mais importantes, e havia vários deles".

Fonte: ‘Raízes de Capão da Canoa’ (2004), ‘Faróis do RS’ (2021) e Marília Veras Thomas



quarta-feira, 22 de junho de 2022

 

Um veraneio e um cação em 1968

Confira a história ocorrida na praia de Arroio Teixeira há 53 anos

Rodrigo Lopes
Ver Descrição / Ver Descrição
Dinarte Santos (à esquerda, com chapéu de palha), pescadores e curiosos em torno do cação pescado em 1968, na praia de Arroio Teixeira

A pesca de cação teve milhares de adeptos até meados dos anos 1970, no Litoral Norte. E o veranista Dinarte Santos, que aparece de chapéu de palha à esquerda na foto acima, foi quem transportou o peixe de dimensões inusitadas em sua Rural Willys.Toda essa história ocorreu em 1968, em Arroio Teixeira, e foi publicada originalmente na coluna Almanaque Gaúcho, do jornal Zero Hero, em 2008, quando a imagem completou 40 anos. 

 Na época, a pesca desse carnívoro era feita na beira do mar, na direção de quem segue para a Praia do Barco. Os pescadores colocavam as iscas em um espinel preso a uma corda de aproximadamente 100 metros, disparada por um pequeno canhão. Quando o cação era visto pulando sobre a água, a corda era puxada e amarrada num palanque, preso na areia. 

Abaixo, a foto em seu corte original, com o logotipo do estúdio Foto Mar.

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Dinarte Santos (à esquerda, com chapéu de palha), pescadores e curiosos em torno do cação pescado em 1968, na praia de Arroio Teixeira

Personagens da foto

Entre os demais que fizeram questão de posar ao lado do cação, os familiares de Dinarte Santos conseguiram identificar apenas alguns. Um deles é o pescador chefe, conhecido como Milton, que mal aparece sob o boné, próximo à barbatana do cação. O da direita, ao lado do garoto, ficou na lembrança como Miltinho. A banhista à esquerda chamava-se Maria e era hóspede do Hotel Calipso. 

Dinarte Santos faleceu em 1993, aos 97 anos de idade. Em 2008, o neto José Carlos S. da Fonseca, de São Francisco de Paula, explicou que os familiares, em sua maioria, tinham uma noção vaga daqueles tempos registrados pela máquina fotográfica. Mas, do tamanho do peixe, até hoje ninguém esquece. 


Pesquisa: Aidyl Peruchi.



terça-feira, 21 de junho de 2022

 

Arroio do Sal: aventuras a bordo de um ônibus

Viagens nos anos 1950 e 1960 costumavam ocorrer pela beira da praia

Não se aplica / Arquivo Pessoal
Atolado na areia, o ônibus 19, da empresa Santos Dumont, um dos que por mais tempo serviu os veranistas

A história foi publicada originalmente nesta segunda pelo colega Ricardo Chaves, titular da coluna Almanaque Gaúcho, de Zero Hora. E o protagonista, o leitor Rolf Schmeling, é morador de Porto Alegre. Mas não importa: saindo de Porto Alegre, das cidades da Serra ou de qualquer outra região do Estado, as viagens de ida e volta ao Litoral, com os ônibus transitando pela areia junto ao mar, eram verdadeiras aventuras e ocupam parte importante nas lembranças, principalmente de quem foi criança nos anos 1950 e 1960.

Rolf resgata memórias das primeiras férias à beira-mar em Arroio do Sal, no recém- inaugurado hotel da família Kunz, como hóspedes da primeira turma, e, depois, no pequeno chalé comprado por seu pai, Wolfgang Schmeling, antigo funcionário da Casa Krahe, da Rua da Praia, na capital gaúcha. São recordações do início dos anos de 1950 que revelam uma realidade desconhecida para os mais jovens, conforme o delicioso relato abaixo.


Não se aplica / Arquivo Pessoal
A chegada de um ônibus à rodoviária de Arroio do Sal, em viagem pela areia da praia
Não se aplica / Arquivo Pessoal
Coletivos vindo de Torres em frente à rodoviária de Arroio do Sal
Não se aplica / Arquivo Pessoal
Passageiros do ônibus linha Arroio do Sal-Porto Alegre nos anos 1950

Malas na capota, janelas emperradas

"O ciclo para o veraneio já começava na metade de dezembro, com a compra das passagens, porque sentar sobre a roda, onde havia pouco espaço devido aos paralamas, não era nada confortável. Sem lugar para as pernas, o passageiro viajava praticamente acocorado. Normalmente, os quatro assentos sobre as rodas traseiras eram os últimos a serem vendidos. Assim foi por muito tempo.A linha era operada pela Empresa Jaeger, depois Santos Dumont. Os bancos não eram reclináveis e não se sabia o que era ar-condicionado. As janelas quase sempre estavam emperradas e os guarda-volumes internos eram abarrotados de sacolas, caixas, brinquedos, vara de pescar, guarda- sol.

Mas o mais curioso no veículo era o local em que eram colocadas as malas: elas iam amarradas na capota do ônibus, cobertas por lona, para proteção em caso de chuva. Meu pai, muitas vezes, fazia o ‘ fundo musical’ com sua gaitinha de boca. Lá íamos nós. Muitas praias não tinham acesso e o motorista era obrigado a deixar seus ilustres passageiros junto ao mar, caso contrário corria o risco de ficar atolado.

Nas escalas, o cobrador subia por uma escada que havia na traseira do busão para desamarrar a lona e atirar as bagagens ao motorista, que aparava os volumes. Não raro uma mala escapava das mãos e caía, em queda livre, rompendo a fechadura e espalhando os pertences nela contida. 

A volta, às 6h, chegava a ser traumática devido à consciência que tínhamos das quase seis horas de viagem pela frente e do calor sufocante na chegada a Porto Alegre. Quem ficava observava o veículo saindo, desviando das ondas que se despejavam na praia até se transformar num pontinho e desaparecer. 

E assim, ano após ano, nosso convívio junto à natureza se repetia na nossa casinha à beira-mar. Era hora de voltar, e isso também era bom. Rever os amigos e vizinhos, reencontrar os colegas de aula e viver novamente o dia a dia. A despedida na praia junto à rodoviária, tocava o coração. 

Pessoas que se conheceram durante o veraneio, a namoradinha que ficaria por mais alguns dias, o hoteleiro badalando o mesmo sino que chamava seus hóspedes para as refeições e um ‘ coral improvisado’ que entoava a melodia mineira adaptada: ‘ Arroio do Sal, quem te conhece não te esquece jamais..." (Rolf Schmeling)

Não se aplica / Arquivo Pessoal
O chalé à beira-mar da família de Wolfgang Schmeling, em 1954