Ricardo Chaves
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Na foto: Farol Albardão, no litoral sul do RS. É o farol mais alto e mais isolado do Estado, localizado nas terras emersas entre o oceano Atlântico e a lagoa Mangueira e entre as praias do Cassino e Hermenegildo

A colaboração a seguir foi enviada por Aidyl Peruchi, fotógrafo e pesquisador, de Capão da Canoa.

Guilherme Martins Veras nasceu em 1893, em Porto Belo, em Santa Catarina; filho de Maximiliano Martins Veras e Leopoldina Furtado, cearenses que foram para Santa Catarina a mando da Marinha do Brasil, da qual ele era funcionário, para assumir o farol da Ilha do Arvoredo, que fica ao norte de Florianópolis, ao largo de Bombinhas.

Em 1914, Guilherme, aos 21 anos, começou a exercer a mesma profissão do pai, no mesmo local. Nesse ano, casou-se com Maria da Conceição Veríssimo Bernardino e viveram naquela ilha durante 15 anos. Neste período, nasceram oito de seus 12 filhos — os outros quatro vieram a nascer no município de Osório.

Em 1929, foi transferido para o farol de Mostardas, no Rio Grande do Sul, onde permaneceu por um ano. Em 1930, foi novamente transferido, dessa vez para Capão da Canoa, onde assumiu a responsabilidade pelo funcionamento do farol do município, recém-construído. Nessa localidade (na época, ainda pertencente ao município de Osório), Guilherme permaneceu, com sua numerosa família, até o fim de sua existência, em 1965.

Todos que o conheceram são testemunhas de seu enorme coração, de sua educação e de seu respeito, tendo sido um amigo estimado por todos, tanto pelos raros veranistas da época quanto pelos moradores mais humildes.

Uma lembrança que ele sempre contava era o fato de, naqueles primeiros anos, ser o primeiro funcionário público federal da região e, também, o espanto que causava quando dizia que tinha que se deslocar até Osório para receber seu salário mensal.

Guilherme tinha hábitos simples e era conhecido por “Seu Veras” ou o “Faroleiro”; uma de suas características era a de estar sempre usando uma boina preta. Tocava violão e gostava de acompanhar as serenatas, muito em moda na época. Era, também, hábil artesão na confecção de redes e espinhéis – o que fazia ele ser constantemente procurado por seus conhecimentos de pesca artesanal no mar.

Nos anos de 1930 e 1940, Capão da Canoa era um pequeno povoado, habitado, nos períodos de inverno, principalmente por pescadores que tiravam seu sustento do mar (peixes, mariscos, maçambiques — molusco — e siris), a maioria deles oriunda do município catarinense de Sombrio e de outras pequenas localidades próximas. No verão, a clientela no balneário aumentava um pouco e eles iam sobrevivendo com a venda do que conseguiam retirar do mar.

Como escreveu Moacyr Scliar numa crônica, de 2009, em ZH: "Faróis são construções antigas. Numa época em que a navegação não podia contar com recursos eletrônicos, os faróis representavam, para os navios, segurança, proteção: na costa muitas vezes distante, ou oculta pelo nevoeiro, alguém estava pensando nos navegantes, alguém estava velando por eles. Na desolada costa gaúcha, na qual os navios não podiam contar com acolhedoras baías, os faróis eram ainda mais importantes, e havia vários deles".

Fonte: ‘Raízes de Capão da Canoa’ (2004), ‘Faróis do RS’ (2021) e Marília Veras Thomas