Somente a empresa de Evandro Auth, 38 anos, tem cerca de 400 colmeias e já colheu até 20 toneladas do produto em um ano. O apicultor explica que, neste momento, a abelha rainha está produzindo ovos para aumentar a colmeia. Então cabe a ele ir aos poucos empilhando mais caixas para expandir a produção.
Hoje à frente da Mel Haupenthal, Evandro atua na apicultura “desde que se conhece por gente”. Foi a profissão que aprendeu com o pai, Nelson Auth, 61. Trabalham juntos, vestidos com macacão de náilon, botas e luvas grossas debaixo de sol. Tudo para evitar picadas enquanto lançam fumaça nas colmeias para afastar os insetos e conseguir acessar o mel.
— No começo, era brim santista e com moletom por baixo ainda. É um serviço danado, mas eu adoro — diz Nelson.
A cultura do mel em Balneário Pinhal tem relação direta com as plantações de eucalipto que há ali: as abelhas africanizadas usam o néctar da florada dessa árvore para produzir o alimento. Apicultor que já trabalha há mais de 40 anos no setor, Gustavo Gomes de Almeida, 71, destaca:
— Isso aqui é uma cachaça. Tu começa a trabalhar com abelha, entende como funciona uma colmeia, vê a natureza trabalhando e se apaixona.
Pitaia: fruta do dragão é produzida em Morrinhos do Sul
No meio das plantações da Vila Três Passos, em Morrinhos do Sul, apareceram algumas roças diferentes, de um tipo de cactos. Elas dão uma fruta de cor rosa vibrante e pele escamosa. É a pitaia (ou pitaya), também conhecida como fruta do dragão.
Nascido e criado ali, filho de agricultores e casado com Rosane, que também é produtora rural, Mauro Martins, 57, sempre trabalhou com banana. Há 30 anos, migrou para a agricultura orgânica, sem veneno.
— Na época, teve deboche das comunidades. “Esse pessoal é doido, vai morrer de fome” —recorda.
Não morreu de fome, e, há sete anos, inovou de novo: foi visitar uma plantação de pitaia em Santa Catarina e decidiu se dedicar à fruta também, para reforçar a renda da família. Ele nem conhecia pitaia, na época, e é bem sincero ao falar sobre a primeira impressão:
— Primeiro, eu fiquei naquela coisa, esperava uma fruta mais gostosa. Depois eu conheci as virtudes dela e vi que é uma fruta espetacular, tem muito valor nutricional.
A polpa doce da pitaia, que tem cor branca ou rosa, é rica em fibras, vitamina A e minerais como ferro, zinco, potássio e manganês. Mauro plantou 1,5 mil pés, mas tem um vizinho da mesma associação de agricultores que foi além e mantém 3 mil pés. Investindo no turismo rural, inaugurou ainda espécie de chácara, com acesso a rio, camping, espaço para eventos e trilha na lavoura da fruta, que chamou de Recanto das Pitayas — agendamentos de visita são feitas com Gustavo da Rosa Carlos, pelo fone (48) 98809-0813.
Mauro vende o quilo da pitaia por R$ 12 na feira e R$ 8 para lojas. Mas antes de a fruta ficar mais popular, já viu por R$ 40 no supermercado. Não concordava com isso. Diz que ficava restrito “para a elite”, enquanto muita gente queria provar e não podia.
Como a safra se dá agora no verão, ele tem trabalhado bastante. Mesmo pertinho da praia, não tira tempo para dar um mergulho. Na verdade, já faz dois anos que Mauro não vai à praia:
— A gente se envolve muito com a produção, vai para a feira em Porto Alegre no sábado, volta no domingo cansado e segunda já recomeçam as atividades. Acabo esquecendo.
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Parte da paisagem da BR-101, bananais são fonte de renda importante no Litoral
Esparramados nos morros ao lado da BR-101, os bananais fazem parte da paisagem do caminho do gaúcho para a praia. Uma das plantações que dá para ver da janela do carro pertence a Saudir Mesquita de Quadros, que tem três hectares das variedades prata e princesa e colhe 35 toneladas da fruta por ano.
As terras dele ficam no município de Três Cachoeiras. Ao lado de Morrinhos do Sul, a cidade tem a maior produção do litoral — são 36,4 mil e 33 mil toneladas por ano, respectivamente, segundo levantamento da Emater. Para conhecer os bananais, Saudir levou a repórter e a fotógrafa de GZH de tobata (um minitrator), com um terço azul amarrado na parte alta da carreta. Lá de cima, no topo do morro, ele enxerga a cidade, a Lagoa da Itapeva e, ao fundo, o mar.
Aos 69 anos, Saudir levanta antes do amanhecer para começar a lida: com três funcionários, faz a limpeza dos brotos, o controle das plantas daninhas, aplica fungicida nas folhas, faz a adubação, derruba o tronco da bananeira com um facão para tirar o cacho.
— Tudo o que eu faço, faço com amor. Se eu estou aqui na lavoura, eu estou cantando e assobiando, feliz da vida — relata.
Ele mantém os bananais há 29 anos: para comprar as terras, trabalhou por duas décadas em um posto de gasolina, sem tirar férias. Mas conta que seu pai já trabalhava com a fruta na década de 1960. Era uma alternativa à produção de cana-de-açúcar na região, segundo ele.
A fruta acabou se adaptando bem ao microclima local, mesmo com condições adversas de solo. Os morros onde estão plantados os bananais são cheios de pedra, o que dificultaria outro tipo de cultura.
— Comparado ao restante do Brasil, o cultivo da banana é muito diferente aqui. Costuma se dar em locais mais planos e irrigados, e aqui ocorre em morros, com solo raso e pedregoso, e não se trabalha com irrigação. A gente nem sabe dizer como ela se deu tão bem — comenta a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar Emiliana Cordioli.
Saudir lamenta que a idade não lhe permite ter o mesmo pique de antes nas plantações. Ele vê, em toda a região, pouca mão de obra e muito potencial de produção:
— Eu vejo tanto jovem saindo da lavoura para ir trabalhar de sapatinho na cidade. Só o que eu queria era ter 20 anos hoje, para trabalhar aqui. Eu ia ficar podre de rico.
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