Trilhas, caminhada em rio e rapel em cascatas: como é fazer canionismo no Litoral Norte
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
TRILHAS, CAMINHADAS EM RIO E RAPEL EM CASCATAS NO LITORAL NORTE
domingo, 21 de fevereiro de 2021
O lado mais doce da praia: como são as produções de banana, pitaia, abacaxi e mel no Litoral Norte
Somente a empresa de Evandro Auth, 38 anos, tem cerca de 400 colmeias e já colheu até 20 toneladas do produto em um ano. O apicultor explica que, neste momento, a abelha rainha está produzindo ovos para aumentar a colmeia. Então cabe a ele ir aos poucos empilhando mais caixas para expandir a produção.
Hoje à frente da Mel Haupenthal, Evandro atua na apicultura “desde que se conhece por gente”. Foi a profissão que aprendeu com o pai, Nelson Auth, 61. Trabalham juntos, vestidos com macacão de náilon, botas e luvas grossas debaixo de sol. Tudo para evitar picadas enquanto lançam fumaça nas colmeias para afastar os insetos e conseguir acessar o mel.
— No começo, era brim santista e com moletom por baixo ainda. É um serviço danado, mas eu adoro — diz Nelson.
A cultura do mel em Balneário Pinhal tem relação direta com as plantações de eucalipto que há ali: as abelhas africanizadas usam o néctar da florada dessa árvore para produzir o alimento. Apicultor que já trabalha há mais de 40 anos no setor, Gustavo Gomes de Almeida, 71, destaca:
— Isso aqui é uma cachaça. Tu começa a trabalhar com abelha, entende como funciona uma colmeia, vê a natureza trabalhando e se apaixona.
Pitaia: fruta do dragão é produzida em Morrinhos do Sul
No meio das plantações da Vila Três Passos, em Morrinhos do Sul, apareceram algumas roças diferentes, de um tipo de cactos. Elas dão uma fruta de cor rosa vibrante e pele escamosa. É a pitaia (ou pitaya), também conhecida como fruta do dragão.
Nascido e criado ali, filho de agricultores e casado com Rosane, que também é produtora rural, Mauro Martins, 57, sempre trabalhou com banana. Há 30 anos, migrou para a agricultura orgânica, sem veneno.
— Na época, teve deboche das comunidades. “Esse pessoal é doido, vai morrer de fome” —recorda.
Não morreu de fome, e, há sete anos, inovou de novo: foi visitar uma plantação de pitaia em Santa Catarina e decidiu se dedicar à fruta também, para reforçar a renda da família. Ele nem conhecia pitaia, na época, e é bem sincero ao falar sobre a primeira impressão:
— Primeiro, eu fiquei naquela coisa, esperava uma fruta mais gostosa. Depois eu conheci as virtudes dela e vi que é uma fruta espetacular, tem muito valor nutricional.
A polpa doce da pitaia, que tem cor branca ou rosa, é rica em fibras, vitamina A e minerais como ferro, zinco, potássio e manganês. Mauro plantou 1,5 mil pés, mas tem um vizinho da mesma associação de agricultores que foi além e mantém 3 mil pés. Investindo no turismo rural, inaugurou ainda espécie de chácara, com acesso a rio, camping, espaço para eventos e trilha na lavoura da fruta, que chamou de Recanto das Pitayas — agendamentos de visita são feitas com Gustavo da Rosa Carlos, pelo fone (48) 98809-0813.
Mauro vende o quilo da pitaia por R$ 12 na feira e R$ 8 para lojas. Mas antes de a fruta ficar mais popular, já viu por R$ 40 no supermercado. Não concordava com isso. Diz que ficava restrito “para a elite”, enquanto muita gente queria provar e não podia.
Como a safra se dá agora no verão, ele tem trabalhado bastante. Mesmo pertinho da praia, não tira tempo para dar um mergulho. Na verdade, já faz dois anos que Mauro não vai à praia:
— A gente se envolve muito com a produção, vai para a feira em Porto Alegre no sábado, volta no domingo cansado e segunda já recomeçam as atividades. Acabo esquecendo.
Doces, frescos e famosos: Terra de Areia produz mais de 3 milhões de abacaxis por ano
Parte da paisagem da BR-101, bananais são fonte de renda importante no Litoral
Esparramados nos morros ao lado da BR-101, os bananais fazem parte da paisagem do caminho do gaúcho para a praia. Uma das plantações que dá para ver da janela do carro pertence a Saudir Mesquita de Quadros, que tem três hectares das variedades prata e princesa e colhe 35 toneladas da fruta por ano.
As terras dele ficam no município de Três Cachoeiras. Ao lado de Morrinhos do Sul, a cidade tem a maior produção do litoral — são 36,4 mil e 33 mil toneladas por ano, respectivamente, segundo levantamento da Emater. Para conhecer os bananais, Saudir levou a repórter e a fotógrafa de GZH de tobata (um minitrator), com um terço azul amarrado na parte alta da carreta. Lá de cima, no topo do morro, ele enxerga a cidade, a Lagoa da Itapeva e, ao fundo, o mar.
Aos 69 anos, Saudir levanta antes do amanhecer para começar a lida: com três funcionários, faz a limpeza dos brotos, o controle das plantas daninhas, aplica fungicida nas folhas, faz a adubação, derruba o tronco da bananeira com um facão para tirar o cacho.
— Tudo o que eu faço, faço com amor. Se eu estou aqui na lavoura, eu estou cantando e assobiando, feliz da vida — relata.
Ele mantém os bananais há 29 anos: para comprar as terras, trabalhou por duas décadas em um posto de gasolina, sem tirar férias. Mas conta que seu pai já trabalhava com a fruta na década de 1960. Era uma alternativa à produção de cana-de-açúcar na região, segundo ele.
A fruta acabou se adaptando bem ao microclima local, mesmo com condições adversas de solo. Os morros onde estão plantados os bananais são cheios de pedra, o que dificultaria outro tipo de cultura.
— Comparado ao restante do Brasil, o cultivo da banana é muito diferente aqui. Costuma se dar em locais mais planos e irrigados, e aqui ocorre em morros, com solo raso e pedregoso, e não se trabalha com irrigação. A gente nem sabe dizer como ela se deu tão bem — comenta a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar Emiliana Cordioli.
Saudir lamenta que a idade não lhe permite ter o mesmo pique de antes nas plantações. Ele vê, em toda a região, pouca mão de obra e muito potencial de produção:
— Eu vejo tanto jovem saindo da lavoura para ir trabalhar de sapatinho na cidade. Só o que eu queria era ter 20 anos hoje, para trabalhar aqui. Eu ia ficar podre de rico.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
Cama de ferro e colchão de palha: como eram os primeiros hotéis de Capão da Canoa
Bacias de jarro esmaltado, penicos e lampiões também eram essenciais para esses estabelecimentos pioneiros do balneário gaúcho
O balneário de Capão da Canoa surgiu junto ao Arroio da Pescaria. Ali, no início dos anos 1920, além de alguns ranchos com teto de palha que abrigavam eventuais pescadores, existiu o Hotel Bonfílio, que não possuía forro, mas era coberto por tábuas. Contava com poucos quartos, uma sala de refeições e uma cozinha. Camas de ferro ou tarimbas com colchões de palha de milho desfiada ou crina vegetal, uma bacia com jarro esmaltado ou de alumínio, pois não havia água encanada, e um penico. Luz, só lampião. Um único sanitário de fossa negra, e um banheiro com chuveiro de latão. O costume era deixar a água do mar secar no corpo devido a suas “propriedades medicinais”.
Em 1922, foi criado o Hotel Pedro Nunes, pois o fazendeiro Pedro Hygino da Silveira, proprietário da Fazenda Capão da Canoa, tinha interesse em receber amigos, compradores de gado e comerciantes, além de raros banhistas. Inicialmente coberto de palha e com paredes de madeira falquejada, ganhou, em 1928, como ampliação, um alojamento com telhas de barro que aumentou as acomodações.
O Hotel Riograndense, de Alberto Mury, foi construído em madeira por Juca Valim e inaugurado em 1928, recebendo reformas posteriormente. Julia, esposa de Mury, cozinhava para os hóspedes. Mais tarde, o novo proprietário, Ramiro Correa da Silva, fez outra reforma, totalizando 23 chalés de madeira, com novos quartos, e construindo um salão de refeições onde eram realizadas festas e bailes. Depois, também foi erguido, ao lado, o prédio de alvenaria, com térreo e mais dois andares, abrigando apartamentos mais confortáveis e que teve até piscina em seu pátio interno.
Recentemente, o fotógrafo Alfonso Abraham, garimpando no arquivo de negativos do seu pai, o também fotógrafo José Abraham (in memoriam), mais conhecido pelo apelido de Espanhol, encontrou uma preciosa foto do início dos anos 1950 que mostra o grande galpão do refeitório do Hotel Riograndense (que, mais tarde, virou o Flipper Show e o Boliche), tendo ainda a grade de madeira entre as colunas (depois retirada) e, ao lado, o anexo de dois andares onde ficavam alguns quartos. O acesso aos cômodos do andar superior se dava por uma escada que conduzia ao mezanino voltado para o gramado da praça central (Praça Dr. José Agostinelli). Lembro-me de, nessa época, ter assistido, desse ponto de vista privilegiado, ao desenrolar de algumas gincanas promovidas anualmente para alegria e lazer dos veranistas da velha Capão da Canoa.
Outros hotéis que também fizeram sucesso nesse período foram: Hotel Bassani, City Hotel, Beira Mar Hotel, Hotel Monteiro, Hotel Bela Vista, Hotel Oceania, Hotel São Luiz e Hotel Atlântico. Abrigos seguros de verões inesquecíveis.
Fonte: livro Origens de Capão da Canoa: 1920-1950, de Mariza Simon dos Santos
terça-feira, 16 de fevereiro de 2021
Acesso ao mar para surfistas, lojas e reconstrução de estrutura: o que é proposto para revitalizar a Plataforma de Atlântida
Cronograma do projeto foi lançado nesta segunda-feira; até dia 25, a sociedade poderá enviar sugestões para o local
Políticos, empresários, entidades representativas e pescadores estiveram reunidos nesta segunda-feira (15) para o lançamento do cronograma de revitalização da Plataforma Marítima de Atlântida. O encontro ocorreu no terraço do restaurante da estrutura, onde foram detalhados prazos e o formato do edital para que as reformas ocorram.
Até 25 de fevereiro, a Associação dos Usuários da Plataforma de Atlântida (Asuplama) receberá sugestões da sociedade sobre o que consideram importante ter para deixar o local mais atrativo. As opiniões podem ser enviadas para o e-mail secretaria@plataformadeatlantida.com.br. Em 20 de março, será publicado edital com tudo o que não pode ficar de fora da revitalização. Um concurso arquitetônico será aberto e, no dia 25 de agosto, quando a plataforma completará 51 anos, o objetivo é anunciar o projeto vencedor.
— A nossa entidade está responsável, com o Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul), por elaborar o termo de referência, que é fazer o estudo técnico para ver as necessidades da plataforma e o que vai nortear o projeto do concurso — destaca Filipe Brehm Marques da Silva, presidente da Associação Central de Arquitetos e Engenheiros do Litoral Norte.
Além das sugestões da sociedade, será elaborado um conjunto de obras estruturais que precisarão ser feitas. Até 25 de agosto, o objetivo é já ter parceiros da iniciativa privada para bancar a execução do projeto vencedor.
— É uma oportunidade única. Teremos um projeto moderno que a gente possa apresentar para o empresariado e, a partir daí, fazer parcerias que permitam realizar esse trabalho e a gente possa ter um píer por mais 50 anos — torce o presidente da Asuplama, José Luís Rodrigues Rabadan.
Lojas com produtos de surfe e pesca, lancherias, restaurantes, uma capela e a construção de um quiosque na entrada da plataforma são possibilidades já estudadas para incluir no termo de referência. A reconstrução do braço sul, que desabou em 1997, deverá fazer parte do projeto, além de melhorias nas muretas e nos pilares de sustentação, por exemplo.
Outro desejo é a aproximação maior entre surfistas, pescadores e visitantes da plataforma. Uma das ideias é construir um ponto de entrada no mar para quem pega ondas. A plataforma é um dos principais picos de surfe do litoral gaúcho.
— Esse acesso facilita ao surfista em dias de ressaca no mar ou dependendo da corrente e altura das ondas, por exemplo. Isso faz com que o praticante fique muito melhor, porque, em vez de ele entrar desde a beira da praia remando, ele iria direto para a zona de impacto, onde as ondas estão quebrando — explica o surfista e vice-prefeito de Xangri-Lá Frederico Freire Figueiró.
Com a construção do acesso, a ideia é que a plataforma ganhe surfistas como associados.
— Essa revitalização é fundamental. A plataforma é um ponto de referência, um ponto histórico, um ponto turístico do município e está se deteriorando a cada dia que passa. Já caiu uma parte e, se deixar assim, pode cair o restante — sustenta o prefeito de Xangri-Lá Celso Bassani Barbosa.
O empresário que contribuir com recursos para revitalização poderá explorar espaços da plataforma, seja com publicidade ou instalação de estabelecimentos comerciais por período a ser definido.
— Como não pode ter recursos públicos aqui (por tratar-se de uma estrutura privada), o projeto não adianta só para recuperar os pilares. Porque senão o setor empresarial não vai ser atraído para investir. Então, nós vamos tratar da revitalização para que as pessoas que queiram colocar seus negócios aqui dentro tenham condições de investir, de recuperar (o investimento) e de explorar — destaca um dos principais articuladores dessa mobilização, o deputado federal Jerônimo Goergen (Progressistas).
O parlamentar explica que, a partir do projeto, vai se saber quanto de dinheiro será necessário para executar a revitalização. Segundo ele, muitos empresários já manifestaram interesse em investir na plataforma.
Outra forma estudada de arrecadar recursos para a revitalização é por meio da venda do naming rights (direitos de nome, ou seja, concessão da propriedade nominal de um determinado local a uma marca) da plataforma para a iniciativa privada.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Mais antigo farol gaúcho agoniza na região de Tavares e Mostardas
Inaugurado em 1849 às margens da Lagoa dos Patos, Capão da Marca sofre com ação do tempo, roubos e pichações. Acesso também é um problema
Durante quase dois séculos, o mais antigo farol do Rio Grande do Sul permaneceu intacto mesmo diante dos intensos temporais que avançam sobre a Lagoa dos Patos. Em determinadas épocas, foi o único da região a não precisar de reparo após uma tempestade. Porém, o Capão da Marca, localizado em Tavares, no Litoral Médio, está quase tombando diante do vandalismo e do abandono.
Nos últimos anos, foi alvo constante de pichações ao longo da estrutura metálica de 19 metros de altura e de depredações, que acabaram inutilizando-o. Segundo moradores locais, o equipamento ficou no escuro por meses. Em operação, seu alcance era de 13 milhas náuticas, ou 23,7 quilômetros. Tratava-se de um referencial para pescadores e navegadores. No último dia 2, alertados pela reportagem de GZH, militares do Serviço de Sinalização Náutica do Sul, da Marinha do Brasil, fizeram o reparo da lâmpada que encontrava-se sem bateria.
Instalado a 50 metros das águas da Lagoa dos Patos, o Capão da Marca sempre foi divulgado como um ponto turístico local. Mas seu isolamento, em uma área com habitações apenas a mais de um quilômetro de distância, e a falta de sinalização nos arredores do município indicando tratar-se de um monumento histórico fizeram dele alvo constante da destruição.
Morador de uma das propriedades mais próximas, o agricultor Arlon Brum, 23 anos, cresceu observando a imponência da torre inaugurada em 1849. Integrante da terceira geração da família a viver na região, Arlon recorda das conversas com o avô, Zaldo Gonçalves, que era amigo do antigo faroleiro. Certa vez, foi Zaldo que o socorreu no meio da noite, na escuridão. Com o carro atolado nas dunas, o único morador do farol precisava de um reboque.
Namorada de Arlon, a gestora ambiental Juliana Pereira, 27 anos, de Mostardas, cresceu ouvindo histórias parecidas do bisavô, Luís Rocha, antigo tropeiro da região, que costumada levar mantimentos aos que cuidavam do farol. Arlon conta que, até a adolescência, subia no alto da torre para ver as belezas naturais da região. A porta não tinha tranca, e o faroleiro já não trabalhava mais no local. Com o tempo, visitantes e moradores passaram a invadir e destruir a edificação. Nas paredes externas, há nomes e indicações de cidades do sul do Estado, da Capital e da Serra.
Uma das últimas partes arrancadas foi a bateria usada para a iluminação noturna do farol. Arlon conta ter visto o equipamento rolando nas areias, em 2020:
– O farol está se desmanchando e ninguém parece se importar. Um dia foi ponto turístico. Infelizmente, virou ponto de vandalismo.
Como uma das últimas alternativas para salvá-lo, uma das janelas de vidro foi trocada por uma placa de metal, e a única porta de entrada, soldada pelo Serviço de Sinalização Náutica do Sul. Hoje, não se pode mais entrar na área interna do farol, apenas circundá-lo, já que ele está trancado.
Em resposta a questionamentos enviados por GZH, a assessoria de comunicação do Comando do 5º Distrito Naval, da Marinha do Brasil, informou que “o farol deixou de ser guarnecido em 1985, em virtude de substituição do antigo sistema (acetileno) por lanterna automática. Quanto à casa do faroleiro, não há informações sobre a destinação dela”. A Marinha também informou que, “durante inspeção realizada em outubro de 2020, verificou-se a ocorrência de furtos dos equipamentos e vandalismo na estrutura do farol. Dessa forma, foi priorizada a recuperação de toda a parte de sinalização para garantir a segurança da navegação na região. Para evitar outros furtos, decidiu-se por lacrar a porta, por meio de solda”. O órgão confirma que “que está agendada para fevereiro a realização dos reparos estruturais”.
Pesquisadora da região há 35 anos, a historiadora Marisa Guedes, de Mostardas, lamenta a situação do farol, considerado por ela uma relíquia histórica. Marisa, que pesquisou documentos e os jornais brasileiros de 1840 a 1930, afirma: Dom Pedro II não passou pelo Capão da Marca para inaugurá-lo, como costumam indicar companhias de turismo, sites especializados e até moradores.
Segundo ela, durante a Revolução Farroupilha, o império pediu o balizamento da Lagoa dos Patos para ter uma navegação mais segura. No pós-guerra, Dom Pedro II veio ao Estado entre dezembro de 1845 e janeiro de 1846. Mas não para inaugurar o farol. O ex-secretário de Turismo de Tavares, Luiz Agnelo de Tavares, relatou a existência de uma placa de bronze indicando que Dom Pedro II havia inaugurado o farol. A placa foi roubada.
– O que encontrei, que pode ter confundido as informações, é que o Jornal D. Pedro II, do Estado do Ceará, noticiou a inauguração do Farol Capão da Marca da seguinte forma: “‘Pharol – no dia 25 do mês passado foi inaugurado o Pharol Capão da Marca no Rio Grande do Sul’. Fortaleza, domingo, 24 de abril de 1881” – conta Marisa.
Em 1847, relata a historiadora, o conselho administrativo da província do Rio Grande do Sul determinou a construção dos faróis do Estreito, onde hoje é São José do Norte, de Cristóvão Pereira, atual Mostardas, e de Itapuã, em Viamão. Eles seriam erguidos em alvenaria e demorariam mais de dois anos para serem concluídos. Mas um naufrágio na Lagoa dos Patos fez o governo erguer um farol provisório de madeira no Capão da Marca, onde hoje é Tavares.
Em meio às obras dos demais, uma grande tempestade destruiu parte das construções, e o único a resistir aos fortes ventos foi o de Capão da Marca – mesmo sendo de madeira. A torre existente até hoje deu mais robustez à construção. Ela chegou diretamente da França em 20 de novembro de 1879 e levou três meses para ser montada.
– Algumas pessoas falam que o Cristóvão é o primeiro farol do Estado por ter sido inaugurado em 1858. Os mais antigos não contavam os provisórios como faróis. Mas há a lei da inauguração do Capão da Marca, de 1849 – explica Marisa.
Desde 1926 o Capão da Marca tem como característica luminosa o lampejo “encarnado” (vermelho) longo (dois segundos), intercalado com oito segundos apagado.
Para chegar ao farol
O agricultor Eron Costa Gonçalves, 47 anos, planeja colocar uma placa na entrada do sítio Dois Irmãos, pertencente à família há três gerações, indicando que a propriedade não é o caminho mais adequado para se chegar ao Capão da Marca. Gonçalves conta que um casal de jipeiros indicou ao Google a estrada interna do sítio como sendo o trajeto para ir até o farol.
– Começou a chover gente de jipe e carro de trilha aqui ao lado da nossa casa. Temos pessoas idosas tentando se proteger da covid-19. Não posso permitir isso. Mas eles insistem, abrem a porteira e querem passar – relata Gonçalves.
Segundo a prefeitura de Tavares, o caminho oficial passa por dentro da área central da cidade e vai até o balneário municipal. Depois, os motoristas precisam seguir pela beira da lagoa e atravessar um córrego de uma lavoura de arroz. Só veículos 4x4 conseguem chegar. De acordo com a prefeitura, placas que indicarão o caminho estão sendo confeccionadas para serem instaladas desde a entrada da cidade até a margem da Lagoa dos Patos.