OS PRIMEIROS HOTEIS - DUAS HISTÓRIAS
Não sabemos qual teria sido o primeiro hotel ou estabelecimento análago instalado aqui. O que se sabe é que além do hotel de Pedro Nunes, Gaspar Griza, que cuidava dos campos e dos gados de Jorge Mury, na pescaria, também cá instalou um hotel, ou pensão. Era uma casa de negócios dando pouso e comida aos viajantes, como era comum ás casas comerciais, no campo. Carlos Mengue ou Menck também teve aqui seu hotel, em idos tempos.
O fato é que Capão da Canoa era o necessário ponto de apoio dos viajeiros entre os 100 quilômetros de deserto de Torres a Tramandaí.Tanto que, lá por 1925, vinha eu com minha familia, de Torres, e me aconteceu um fato muito engraçado. Meus pés de nove anos estavam inchados, e como se anunciava um temporal na tarde muito quente de verão, ficou resolvido abicar o Ford de Bigode na Pescaria e aguardar o dia seguinte para a última etapa da viagem, até Conceição do Arroio.Introduzidos no hotel, fui logo chamado para a cozinha, onde uma empregada trouxe uma gamela cheia d'água, na qual boiavam as alfaces para o almoço. Tirou ela as verduras e mergulhei os pés doloridos na água fresca. Passado o calor dos pisantes, foi lançada fora a água medicinal, esta logo renovada e nela novamente postas as apetitosas folhas verdes... Pois estava inventada a revolucionária receita: água de alface, para pés cansados!
História ouvida por Dona Mary Mury Cunha, de seus pais Alberto e Júlia Mury, deu-se com um circo de borlatins, como se dizia na época , falando-se de circo. Nem bem havia sido ele visto no desolado lugar, difundiu-se a novidade. E feitos os primeiros contatos com os habitantes, veio a nota triste: havia na comitiva um mulher em adiantado estado de gestação e em perigo de vida, tal a sua fraqueza.
Dona Júlia Mury é a primeira a ver a sofredora e logo determina as providências: manda em casa preparar caldo de galinha com bastante pimenta do reino, o que a fraca parturiente toma com prazer e logo melhora. Dona Júlia e a doente rezam a Nossa Senhora do Parto, pedindo um final feliz para aquele transe; o que se dá, com o nascimento de um menino. Os pais, agradecidos, homenageiam dona Júlia, pondo no neo-nato o nome de " Montori" , que era também o nome de um guri de 2 anos, filho da improvisada parteira.
Expliquemos: a pimenta no caldo de galinha era o remédio da época para auxiliar partos.Também era usada em doses altas como abortivo.
Caldo?.....Só de galinha! O de frango não servia.Era a medicina campeira.
Lá por 1930 já existiam vários hotéis em Capão da Canoa e fato comum era a intimidade entre os hospédes, o hoteleiro e a família deste.Frequentemente, o prórpio dono do estabelecimento vinha receber os viajantes e os ajudava a desembaraçar-se das malas e caixas. Um banhista novo era devidamente apresentado, pelo antigo, ao hoteleiro, com demonstrações efusivas de aprêço. A despedida também se dava sentimentalmente, de manhã cedinho, enquanto o automóvel aguardava, recheado, por fora e por dentro, com malas e amarrados. E talvez essa arrumação tivesse sido já feita na noite anterior.
Saber-se alguém estar de aniversário, hospéde ou hoteleiro ou sua esposa, era motivo para brindes e troca de amplexos, o que se dava na hora da refeição, de modo que todo o salão da casa festejava junto.
O drama para se chegar ás praias
Como não havia estrada entre a Capital e outras cidades com a praia, a viagem nos primeiros automóveis podia durar 1 ou mais dias, tempo que formava muita amizade entre o chofer e os passageiros, e geralmente o mesmo motorista trasportava as mesmas famílias durante vários veraneios. O chofer guiava pelo campo aberto, seguindo o rastro de outro veículo que por ali houvesse passado. Alguns desses heróis dos caminhos: o Português, o Alemão e o Fausto.Consta que este último é proprietário de casa em Capão. Os carros eram principalmente das marcas Ford, Chevrolet, Rugby, Essex e Dodge. Mas antes deles eram os pesadões Fiat, Bianchi, Studebaker e Buick. E como eram veículos sem porta-bagagem, vinha esta dentro, entre os viajantes e também fora, amarrada.Cada auto trazia sua caixa de ferramenta, mais um jogo de correntes para as rodas, no caso de muito lodo, e, amarradas em cruz, na trazeira sobre 2 ou 3 pneus de socorro, duas pás, necessárias para abrir valos por onde pudesse rolar o auto, nos areais. E sendo os carros abertos dos lados, vinham as pessoas abrigadas em guarda-pós, as mulheres ainda de lenço na cabeça. O chofer, de guarda-pó escuro, luvas de couro, boné e óculos de aviador. O auto que trazia o banhista era o mesmo que o levava de volta para casa, pois assim era o trato naqueles tempos, já que se depositava toda a confiança no chofer para a façanha da viagem.
A primeira empresa de ônibus a passar por aqui teria sido o Expresso Nordeste; a segunda seria o Expresso Lages e, por último, a Empresa Jaeger. O trajeto delas era: Porto Alegre, Conceição do Arroio, passando por Gravatai, Santo Antonio, depois por Tramandaí, Capão, Torres e finalmente Araranguá, município que na época dependia dos bancos de Porto Alegre.
A Emancipação
Capão tornou-se independente de Osório em 12/04/1982: possui atualmente 35.000 habitantes e 167 km2. Egon Birlem, primeiro prefeito, e Mário Flores, vice.
Os primeiros vereadores: Osmar Serra, Pedro Teixeira, Delci Germano, Érico de Sousa Jardim, Etevaldo Galimberti, Nelson Fassbinder, Angelo Bassani, João Magnus e Protásio Marques da Rosa Filho.
A origem: Fernandes Bastos escreve: "Capão da Canoa" lugar situado no 7º distrito. A fazenda de Capão da Canoa é um desmembramento da antiga fazenda pertecente a Inácio José de Araujo, e abrange a parte que foi comprada por Manuel Marques da Rosa, na divisa com terras pertencentes à família Silveira.(pequeno Dicionário Histórico e Geográfico de Município de Osório).
Crédito
Autor - Guido Muri - nascido na vila de Conceição do Arroio - RS, em 12/09/1916
Livro - Remembranças de Conceição do Arroio IV VOLUME - 1995
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