Ricardo Chaves
Ricardo Chaves / Arquivo Pessoal
Chalé da minha família em Capão da Canoa no final dos anos 1960

Na coluna da última quarta-feira (3), evoquei as temporadas de férias do passado, quando Capão era apenas um tranquilo balneário de Osório. Foram tantas as manifestações de leitores, que acabei estimulado a cavoucar um pouco mais nas memórias e nas imagens de antigamente. 

Algumas mensagens diziam que, ao ler o texto, veteranos veranistas foram transportadas de volta para aquele tempo remoto. Mais gratificante impossível. A Sônia disse que voltou, alegoricamente, à velha Capão. O Eduardo lembrou que, então, alugavam-se cavalos para passeios, mas os donos dos animais recomendavam que se evitasse levá-los até a Avenida Paraguassu, nas imediações da antiga caixa d’água, já que “a partir daí, eles ficavam incontroláveis e enveredavam para o lado da lagoa, onde viviam os proprietários e onde ficavam suas baias, e ninguém conseguia fazê-los voltar.”

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Como nem sempre os cavalos eram bem tratados, e alguns locatários inconsequentes abusavam dos animais em intensos galopes, essa prática, que era essencialmente bacana, teve de ser proibida para proteger os equinos. Essa informação me fez recordar que, naquela época, anos 1950 ou 1960, junto ao farol, havia uma oficina que consertava, e também alugava, bicicletas. Lembro que, certa vez, meu pai Hamilton alugou uma delas para uma visita a uma prima que estava na Praia Araçá. Eu, ainda muito pequeno, viajei sentado no porta-pacotes (que cadeirinha, que nada), e acabei enfiando um pé entre os raios da roda, o que provocou um ferimento que turvou a alegria do passeio, mas não chegou a inviabilizá-lo. Já bem maior, eu tinha, em Porto Alegre, minha própria bicicleta, aro 26. Não era comum, como agora, ver as bicis sendo transportadas em racks nos automóveis. 

Pode parecer absurdo, mas, todo ano, minha bike era despachada para o Litoral pela transportadora da Loja Longo, onde, feliz, eu ia resgatá-la. A Longo, tradicional casa de comércio instalada (até hoje) na praça central de Capão, era onde se encontrava de tudo: de tecidos a ferragens, de brinquedos a utensílios para a casa. Era ali que quase todos os problemas eram resolvidos. Havia até quem enviava, por eles, a geladeira, que, no final do veraneio, voltava para a cidade. Inacreditável, né? 

O Eduardo também fez referência à qualidade do pão que era vendido no Litoral. Ele comprava na padaria que citei no primeiro texto e confessa: “O pão era espetacular, quando eu chegava em casa havia comido um quarto do pão de meio quilo, que era no formato de um cacetinho enorme. Jamais esqueci aquele pão”.

O Pércio se surpreendeu com as memórias e agradeceu “a aula de história”. Um doce exagero, é claro. O Aldo lembrou de algumas semelhanças com as suas férias do passado, em Cidreira. O Liberato, de Santiago, disse que seu sogro, Vivente Beraldi, com a esposa Angélica, também veraneava em Capão, nos anos 1940, até por recomendação médica, já que a filha Melânia “tinha asma, e o mar era a receita na época”. O Jorge enviou-nos um cartão postal da antiga “nova rodoviária”, quando ainda era na praça da igreja. 

A Luciana lembrou das férias, na Rua Moacir, na década de 1980: “Ainda havia o cinema, o boliche e muitas casas”. Ela encerrou dizendo que “apesar do cenário bem diferente, Capão da Canoa, ainda é a praia que mais gosto.”  Demonstrou preocupação apenas com a situação do torreão da caixa d’água: “Vamos torcer para que permaneça por lá”.