A história da freeway, a estrada que liga gaúchos ao Litoral Norte desde 1973
Trecho entre Porto Alegre e Osório da BR-290 abreviou o tempo de viagem até as praias para muitos motoristas
No dia da inauguração da autoestrada, público foi assistir à passagem de veículosHipolito / Agencia RBS
Quando o trecho entre Porto Alegre e Osório da BR-290 foi inaugurado, na manhã do dia 26 de setembro de 1973, os gaúchos, especialmente os moradores da Capital, se sentiram entrando em uma nova era. Até então, para se deslocar para o Litoral Norte, os porto-alegrenses tomavam assento em automóveis abarrotados de malas e apetrechos de férias e seguiam na direção da RS-030, hoje conhecida como Estrada Velha – aliás, ainda disponível, só que agora mais como alternativa a sua irmã mais nova, nos horários de pico.
A Estrada Velha foi, por muito tempo, o único caminho para chegar até Osório e, dali, alcançar o mar, com seus encantos, em Tramandaí, Capão da Canoa, Torres e outros paraísos. A estradinha de pista simples, pontuada por curvas sinuosas, recebia um tráfego intenso, não só de veículos de passeio como também de ônibus e caminhões, o que a deixava cheia de buracos no asfalto. Mas quem ligava?
A viagem começava por Gravataí – a passagem era por dentro da área urbana –, prosseguia por Glorinha e tinha parada obrigatória em Santo Antônio da Patrulha. Embora este município, fundado em 1811, seja um dos quatro mais antigos do Rio Grande do Sul, os veranistas não paravam ali para desfrutar do turismo histórico, mas para saborear os famosos e tradicionais sonhos e rapaduras da cidade. Tudo isso mudou com o corte da fita da nova rodovia. Ao passar pela região, com velocidade máxima permitida para automóveis de 120 km/h, mal dava para espiar a placa de Santo Antônio da Patrulha, muito menos desfrutar de sonhos e quimeras.
Com duas pistas em cada sentido (hoje são três), separadas por um largo canteiro central, a rodovia inaugurada no começo dos anos 1970 foi considerada a primeira autoestrada brasileira. Para encher ainda mais o peito, os gaúchos lhe deram um apelido que é referência às vias expressas da Califórnia, especialmente as que cortam a região metropolitana de Los Angeles, chamadas de freeways. Não é fora de propósito. Afinal, naquela época, as influências anglo-saxônicas se expandiam cada vez mais em nosso vocabulário a bordo do rock and roll, que sacolejava nas ondas do rádio.
Vivíamos o ocaso dos tempos de “milagre econômico”, período em que a economia dava sinais de prosperidade, os quais desapareceriam logo ali em seguida, com a crise mundial do petróleo, curiosamente, deflagrada um mês após a inauguração da freeway, em outubro de 1973. Sem se dar conta, o país priorizava um modelo de transporte baseado, principalmente, em rodovias, abandonando pouco a pouco a malha ferroviária como opção de deslocamento. Mas quem se importava?
A inauguração da freeway abreviou o tempo de viagem dos porto-alegrenses até o Litoral Norte. Com a autoestrada, o percurso de 96,6 quilômetros até Osório passou a ser feito em cerca de uma hora. Nos primeiros tempos, o movimento alcançava, no máximo, 300 veículos por hora, marca quase 17 vezes menor do que a atual. Ela ainda ganhou importância como corredor de escoamento dos produtos procedentes da Argentina e do Uruguai no âmbito do Mercosul. Até hoje, é uma das estradas mais bonitas do país. E, o melhor de tudo, nos deixa pertinho das areias do mar.
PAULO CÉSAR TEIXEIRA - INTERINO
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